Foi antes da sida. Foi antes dos 10 anos de Cavaco. Foi logo a seguir à revolução. Foi há 25 anos. Difícil lembrar esse país ainda a sépia que entrou nos anos 80 com a morte de um primeiro-ministro num acidente de avião. Esse país que via o Festival da Canção e a Visita de Cornélia e a Gabriela Cravo e Canela e o Passeio dos Alegres na TV pública (não havia mais nenhuma), se vestia de igual e não viajava, o país conformista, bafiento e complexado onde as noites pertenciam ao bas fond e os discos chegavam a conta-gotas, o país onde um concerto era um acontecimento extraordinário, controlado por polícias que ao mínimo pretexto desembainhavam o cassetete, sau- dosos do rigor mortis que dava pelo nome de "lei e ordem", o país em que, como diz o realizador Edgar Pêra, hoje com 44 anos, "o fascismo não acabou com o 25 de Abril, levou muito tempo a ir embora".
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